Dê-me um motivo...

Dê-me um motivo; uma causa, razão, circunstância... em síntese das palavras, algo que corrobore o espírito solícito que eu tanto prezo ou prezava aqui. Deveria indagar alguns porquês de estar em desestímulo. O mesmo poderá destituir todas as tensões e pressas que angustiam. Só eu, um comensurável, a todos as "minguacisses" de mentiras e trapaças. Ao momento está além do que vejo e aguardo. Aguardo um tempo do motivo que me vem a predizer aquilo que serei e a cumprir como uma mensagem inconsciente. Pronto, resta mais algumas coisas para serem definidas, mas depois de escrever até aqui já não sei o quero dizer. Aliás, já nem me lembro o que queria dizer. Ora, para não dizer nada, precisei de verbos, preposições, adjetivos, advérbios, conjunções, pronomes, artigos e algumas regências que podem ou não vingar. Para um parágrafo já bastam.

Um bilhete


Um bilhete sem endereço a ninguém encontrado manuscrito em um caderno velho tomado pela poeira – nada que um espanador não resolva –. A grafia era maiúscula dando a entender que o autor queria passar seu conflito e indignação quanto ao meio que o cerca: 

A saúde pública que é uma desgraça. O governo corrupto. [O que rouba, mas será que faz? Trocadilho de uma fala de outro ladrão, o ex. governador de São Paulo: Ademar de Barros]. O aumento no preço dos transportes públicos. A discriminação de uma sociedade racista. A hipocrisia das classes [abastadas] achando que tudo está bem assim como está. O contraste de uma elite que compra apartamentos [de milhares de reais financiados pelo poder público]. E construtoras que deitam sobre os lucros em cima do trabalhador taxado a um custo modesto e leis trabalhistas frouxas contando com o aval dos que tem toga. Pobres não compram esses apartamentos, apenas trabalham neles como domésticos e operários. Suas casas ficam cada vez mais afastadas dos centros. [A diferença tem a sua cor geográfica e étnica]. O sensacionalismo da [imprensa].  Pretensão, psiquiatras e suas esquisitices prescrevem drogas que fazem o mal multiplicando o egoísmo. O escapismo da propaganda – antes usada pelos alemães como arma de guerra, e depois trocada para outros termos: relações públicas, e agora para fins educativos e profissionalizantes de publicidade –. Elas não medem esforços em ludibriar o povo com seus bibelôs: modelos que viram dramaturgos de novela; pousam para as revistas, mostram suas casas luxuosas e aparecem na tevê alimentando o ciclo da famigerada coluna social: o caderno dos jornais que teimam em publicar notícias sobre famosos, ricos e sua casta. Produzirão mais fundamentalistas do que fãs; se é que a palavra fã não caiba na primeira, que compram o show bussines por um “pedaço de uma roupa do ídolo”.