Samba e pagode



A rodada de um pandeiro. Você viu que as mãos ágeis de um lado e de outro teimam nervosamente a bater. Os pratos ressoam naquele recinto. É um exercício filosófico; o que não poderia ser melhor para esquecer-se dos problemas do que uma música, um instrumento e um grupo empolgado com o que faz. É qualquer coisa que um instrumento de percussão dê a ser.

“Samba”... Não parece ser uma marca, produto de qualquer ideologia contemporânea, ou algo apenas de uma cidade que lembre o Corcovado e o Pão-de-açúcar, ou de qualquer outra parecida com ela. Antes a geografia do que a boêmia, peso ambos; terão um lugar para as inspirações de quem passeia pelas ruas e esquinas dos bares e quiosques.

Amanhã tomarei uma! Tenho dito. Se não aqui, em qualquer outra cidade que terá a decência de me servir uma cerveja. Se não der a cerveja qualquer água-ardente serve, e ver o tempo passar com as horas do sol de uma cidade calorenta.

O som será o mesmo, o de hoje até a madrugada, até o efeito inebriante findar. Mas, enquanto não acabar posso fazer os meus numa caixinha de fósforo e dizer que sou boêmio, que sou legal, que sou malandro como em algum clichê roubado de uma letra de Noel. 

A vida pode ser até agitada, se se pensar bem os encantamentos são suas nuances. Um deja vu de uma vida passada. O eterno malandro com seu chapéu panamá, terno e calça da cor de lã, com aquela cera no sapato preto saindo de um bar com os beijos de uma, esperando pela noite seguinte para findar num quarto sem as ceroulas. 

Teria tempo. Para andar ali e acolá buscando inspiração para cada acerto num jogo de cartas, ou no dominó, ou no bilhar, ou naquela mulher que faz a vida correr porque não teria sentido se as horas não fossem cobradas. “Amanhã eu pago!” “Não precisa!” “Como não precisa meu amor. Dou-te tudo o que precisar. Vem morar comigo”!