O menestrel


O menestrel, personagem teatral que ensaia a consciência do homem. A consciência virá em trajes de palhaço. Pimpão, jocoso, estapafúrdio –, um bobo da corte.

Um coringa de baralho. É uma fantasia que gesticula e anda criando uma performance particular numa corte burguesa com ares de nobreza. Trágico homem ocidental.

A alma de qualquer homem é trágica por vestir um corpo vil e submisso aos desejos incontroláveis. Caberia exceção. Rainhas não cairiam em libertinagem, reis não seriam tiranos e estupradores, e não haveria guerras.

Mas fora isso, continuamos em frente. Afinal temos uma alma, que dirá trágica.

Uma Pacata Menina

Uma pacata menina trazida do seio de sua terra de um povoado distante, de ilibada reputação, acariciada por sua juvenil feição. Ia à cidade grande buscada por um conhecido de um conhecido que arregimentava gente como ela. Para todos que perguntarem iria a fim de estudar – trabalhar de doméstica seria temporário.
 

Passou algum tempo e a morada das apostilas e cadernos foi ficando para trás na obscuridade dos cantos –, na sombra do canapé, acima de estantes e móveis no alçapão. O presente apoderou-se da juventude feminina aos fitos do ardor do trabalho sem a mínima complacência – porque a dor não é exclusiva.
 

Pela manhã a conhecida outorgava-lhe os dissabores das tarefas naquilo condizente a um lar. Pela noite depois que o conjugue da conhecida asseverava(1) o gentil descanso da companheira – uns beijos seguidos de um cochilo – infligia a pior das injúrias no leito da pequena menina. Como um vulto assassino incutido de perversidade desflora mutilando aquela mocidade ingênua, destruindo aos golpes uma criança. Assegurava o agressor, com uma das mãos, a apertar aquela boca pequena prendendo os lábios para que não grite. A defesa contra aquele ato infame.

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(1) Asseverar: assegurar;