A mulher



A mulher corresponde a velha voz de vencedores – porque não foram vencidas? – amedrontadas pelo tempo. A voz, a rouquidão, o aspecto da constante luta entre si. Em poucos lugares do mundo isso não é o contrário. A antítese é a cultura procrastinada. Como não ver os símbolos?


A mulher moderna seria a pergunta infundada por uma estranha observação, sempre a do homem, e quando da mulher é sob a tutela do homem. Por que tamanha insensatez?


O modernismo ocidental a impregnou, um espelho de sua imagem. A mulher sonharia com futilidades e almejaria o trabalho – isto seria uma praxe? – existiram ademais concepções parecidas. Constrói-se o pensamento em cima de uma superstição, oratória de vencedores. Como dirá o poeta: a história é contada por eles – os vencedores.


O homem não estaria em guerra consigo mesmo, e a mulher, a fonte da humanidade, foi vítima de sua diferença. Afinal, seria muito melhor transformarmos as tradições e adapta-las ao tempo (ou mesmo renegá-las), ao seu espírito; no mais progrediríamos a um futuro de conceitos e o inverso seria tacanho demais como um programa de auditório da tv repletos de conceitos prévios ou em língua comum de preconceitos.

Conversa fora


Às mãos que criam o título fazem pensar nas outras de tão leves. Mãos que marcam notadamente a fina sintonia de uma nota angelical. Por força, por paixão, grandes são aquelas pequenas e delicadas, iluminados círios orquestradas. 

Penso quão leves. Detivera a primazia de tocar os dedos de sua mão. As minhas eram sujas, estavam feridas. Apalpar as suas era tudo. Creio que nem as mãos seriam tão cortejadas, um objeto virtual da criação.


Vem a mim, ave graciosa; corteja-me e direi que é deus, um busto em mármore, espádua talhada de dias e dias de trabalhos exaustos que o artista consumiu em prol da perfeição.


É tão especial. É a soma dos dias pedidos onde a noite observou a lua já passara para um novo minguante. Eram seus sussurros que vi aparecer e desaparecer nas sombras do quarto, da cozinha e do corredor.


Jamais foi tão escuro no dia em que elas faltaram. Tateava na busca daquela mão segurar-me, meu relicário. Existirá mesmo? Será a fortaleza de meu pensamento? Quando abro os olhos e vejo o que foi queria não abri-los mais. E por todo sempre a contemplar as alvas mãos que como uma libélula voa entre as trevas da minha emoção.

Tarde da Noite



– Ele é seu filho também! Porque está agindo assim! – uma voz ecoava pelo ambiente escuro e aterrador de uma saleta. Aos fundos, detrás de uma parede picotada de gesso, estava alguém tentando dormir, estranhamente não conseguira por conta da primeira voz. Talvez pudesse contar carneirinhos ou os objetos desafiadores no seu quarto: um criado mudo, a própria cama onde estava, um guarda-roupa com um espelho, que ao levantar de manhã dava a vê-lo desarrumado. Uma mesa, alguns livros de contos antigos e um abajur, desses com ares com ares modernos.

– Preciso de dinheiro! O dinheiro acabou!  


– Mas já? – retrucou a voz do outro lado


– Não imaginas que não iria telefonar se não fosse urgente! –aferra a primeira.


– Urgente pra quem? Pra ele ou para ti?


– Pelo amor de Deus! Não faça assim!  


O ar daquela conversa continuou além mais. Não o bastante para de tempos em tempos os personagens envolvidos não desmerecessem sua agitação e sentimentos contrariados. 


Era uma carga emocional, mas não precisava; qualquer banco 24horas resolveria a situação. Ou um computador ligado á internet, mesmo fazendo anos de separação, as coisas nunca davam certo para também não serem mais tentadas. 

No ônibus


Belém, algum dia no verão!


Cidade vazia! Rodoviária lotada!


Dos ônibus que circulam nada parece lembrar os dias que antecediam as férias de julho! Mas lá estavam eles reduzidos pela metade da frota, um conluio do empresariado e governo que aproveitam do povo, a ignorância para sua sobrevivência; o mais estranho, é que nada diz o contrário, e entra ano e sai ano, e a mesma história de sempre se repete.

Um rápido olhar: a criança no colo da mãe. Por ela passa assuntos tão menos problemáticos, e mais práticos para serem resolvidos. Por que ela olha? Os olhos arregalados de quem está tentando descobrir? É algo sucinto que espelha seu modo de ação mastigando a rodela de laranja presenteada pela mãe. 

A criança: um garoto que cabia nos cinco anos, cor de bronze, com os olhos mais ressabidos de tudo! Deveria ser ele um porta-voz do futuro dos homens! – um futuro desconhecido, que não está para ser entendido a não ser que você seja uma criança e que olha e que olha seu espaço na tentativa de entender, mesmo que em vã, o intricado sistema que se estrinchou! 


Nada seria tão desanimador quando a mãe admoesta o filho. “Não fique olhando para os outros; olha para frente”! O carinho maternal inibe, mas depois de minutos, tudo volta de novo! 


A criança redobra a curiosidade, o rapaz retrai-se na cadeira no seu mp3; a moça instigada se abre pelo telefone aos ouvidos de todos, preponderância da voz mais alta que os seus ouvintes.  


O presente aí está; depois que os olhos da criança passam o futuro já não será mais o mesmo!